Uma nova forma de se relacionar com emoções difíceis

18-05-2022

Imagem by Sílvia Ferreira - Photography

Todos nós em determinados momentos, experienciamos emoções mais difíceis. Estou a falar de emoções, vulgarmente consideradas como negativas ou más para nós e, que socialmente, têm tendência a serem reprimidas ou evitadas. É importante desconstruir que, tal como as emoções mais agradáveis (como a alegria, o entusiasmo, o prazer) são importantes e necessárias para um equilíbrio emocional, as emoções desagradáveis, como a tristeza, a raiva, o medo ou a vergonha também o são. É de extrema relevância que tanto umas quanto as outras, sejam experienciadas, reconhecidas, validadas e acolhidas.

Quando num dado momento, sentiu que estava chateado, irritado, ansioso, com raiva ou até triste e, alguém perto de si, lhe disse: "anima-te, isso não é nada", "não precisas de ficar assim", "pára com isso" ou "se calhar estás a exagerar", "vê as coisas pela positiva". Apesar da outra pessoa o querer claramente ajudar e ser muitas vezes bem intencionada, é fundamental, que nesse momento, pare um pouco, reconheça as suas emoções (o que está verdadeiramente a sentir), sem se focar num positivismo pouco genuíno. Tentar afastar as emoções mais desagradáveis, ignorando-as ou procurando eliminá-las pode de facto conduzi-lo a danos psicológicos ou até físicos. Por outro lado, ficar preso, sobrecarregado ou paralisado em emoções difíceis é igualmente inútil e prejudicial.
Abaixo, apresento uma forma saudável para se relacionar com emoções desagradáveis que lhe vão surgindo, usando as perguntas quem, o quê, onde, porquê e quando. Para situações que envolvam emoções mais intensas, devido a trauma, luto ou outras situações extremas, pode ser importante procurar apoio de um profissional de saúde mental.

Sempre que experienciar emoções desagradáveis como as anteriormente indicadas, siga a ordem "quem, o quê, porquê, onde e quando" e faça a si mesmo as 5 perguntas a seguir:

1. Quem é que está a aparecer neste momento?

Por exemplo, ao fazer a si próprio a pergunta: "Quem está aqui?"e ter como resposta: "É a raiva que está a surgir", este exercício ajuda-o a reconhecer, a identificar e a nomear as suas emoções. Permite-lhe também criar um espaço entre si e as suas emoções, clarificando que você não é os seus sentimentos e emoções, diminuindo a intensidade do que está a vivenciar.
Convide as suas emoções a entrar, a sentar, a serem vistas e ouvidas, cuidando delas, tal como se de um novo convidado (a entrar na sua casa e vida) se tratassem.

2. O que é que está a acontecer no meu corpo?

Pratique a atenção plena e traga consciência e curiosidade para acompanhar o que está a sentir. Se está a sentir raiva, repare como o seu corpo se contrai, o batimento cardíaco fica acelerado, a sua respiração se torna mais superficial e fica prestes a explodir. Perante o que está a sentir, é necessário respirar fundo, acalmar e cuidar dessa emoção.

Pode ser útil perguntar: "O que é que a minha _____ (preencha o espaço com a sua emoção) precisa agora?" Exemplo - Talvez a minha raiva precise que eu reconheça que estou magoada e que gostaria que a outra pessoa entendesse a minha perspetiva.

3. Porque é que esta emoção está a surgir agora ?

Todas as nossas emoções são importantes e necessárias. Todas elas têm um propósito e dão-nos informações úteis sobre nós próprios. A maior parte das nossas emoções (mais desagradáveis) estão ligadas ao nosso sistema mais primitivo, que foi particularmente útil para nossos ancestrais perante ameaças externas.
Por exemplo, quando se sente sobrecarregado no trabalho com muito para fazer você sente raiva. Esta sua resposta primitiva de ameaça está a tentar protegê-lo, mobilizando na prática o seu corpo para uma luta ou fuga. Quando percebe que isso está a acontecer, é importante agradecer ao seu cérebro primitivo que o está a tentar proteger e procurar formas mais eficazes e ajustadas de lidar com a situação (e.g. exercícios de respiração).


4. Onde é que esta emoção pode ser guardada/contida? 

Imagine um pote, um pote grande, onde possa conter no seu interior cada uma das suas emoções mais difíceis. Por exemplo, um pote de aceitação da sua raiva ou um pote de coragem para o seu medo. Quando me permito manter nestes potes estas minhas emoções, estou a cuidar delas, estou a cuidar de mim, aceitando o que estou a sentir e tornando a minha dificuldade mais suportável.

Este é um excelente recurso que o pode ajudar a conter e a lidar com as suas emoções e sentimentos mais desagradáveis.

5. Quando é que devo agir com sabedoria?

Após reconhecermos as nossas emoções de forma a ajudá-las a sentirem-se olhadas e escutadas, é importante, perguntarmos se existe alguma ação benéfica que possa ser tomada. Por exemplo, se me estou a sentir magoado por outra pessoa, quando estiver mais tranquilo e sereno, posso reunir com a pessoa e abordar esse tema, expondo a minha perspetiva.

Espero que esta nova forma de se relacionar com as suas emoções mais difíceis, lhe proporcione maiores níveis de bem-estar emocional e felicidade.  Cuide de si todos os dias.

By Tânia Daniela Carvalho
Psicóloga Clínica
CP 23675 OPP